Em quase 3 anos morando fora do Brasil, me acostumei a ser vista como estrangeira pelos moradores dos países onde vivi. E, também, a me sentir como estrangeira em meu próprio país. Por isso vinha evitando falar de política até agora.
Mas como escapar do tema estando por aqui em vésperas de eleição? Só voltando pra estrada, de alguma forma…
Manter um certo distanciamento ajuda a colocar as opiniões em perspectiva. No entanto, o fato de vivenciar outras realidades me reaproxima do ponto de vista das pessoas. É desse lugar muito particular que saem as ideias a seguir sobre a política atual.
REPRESENTATIVIDADE
Deixei o Brasil no auge de uma crise, quando helicópteros das emissoras de TV passavam quase que diariamente pela minha varanda para cobrir as manifestações políticas que aconteciam bem na região onde eu morava em São Paulo.
Mas eu sabia o quanto era privilegiada por fazer parte dessa demografia, por poder tomar meu banho quente e comprar comidinhas gourmet no supermercado. Muito antes de viajar por países exóticos, eu já tinha ficado em lugares nada turísticos do país: em ilhas do Amazonas onde o gerador era desligado ‘após a novela’, em aldeias indígenas, em cidadezinhas próximas ao rio São Francisco que enfrentavam terríveis secas.
Essas lembranças voltaram quando fui cobrir uma amiga na produção de figurino para uma campanha política. Eu sabia que o candidato não tinha chances de ser eleito, mas aquilo vinha à mente enquanto ele fazia exigências sobre o ajuste da camisa e tipo de colarinho…
Sem hipocrisia, eu também pensava que o cachê seria útil em minha próxima viagem!
E isso é o que mais me incomoda na política. A sensação de que são tantas as camadas, mas (in)justamente apenas os com mais acesso a oportunidades é que têm alguma representatividade.
RUAS x REDES
Por mais que eu tenha me livrado dos helicópteros de reportagem ao cair no mundo – e o Brasil mantivesse o vice-presidente no poder – o barulho da política chegava com as redes sociais e diferentes manifestações nas ruas, onde quer que eu estivesse morando.
Vivi em Istambul em uma época turbulenta, às vésperas das eleições. Eu ainda fazia parte do grupo do Remote Year e a organização nos colocou em um bairro afastado por medo de que nos tornássemos alvo de atentados antiamericanistas.
Eu estava na Turquia quando houve a crise com o barco dos refugiados da Síria e morei por bastante tempo em dois países que passaram por problemas políticos gravíssimos, pouco comentados nas redes sociais brasileiras.
Trabalhei um ano e meio no Sri Lanka, ex-colônia Inglesa que também já foi dominada por Portugal e Holanda, sofreu com um devastador tsunami e uma explosiva guerra civil – tão recente que ainda há toque de recolher na região norte do país.
Depois, morei por seis meses na Albânia, país que até duas décadas atrás viveu sob um regime comunista fechado, além de ser cercado por países em guerra, como o Kosovo, a Sérvia e a Bósnia. Na época, meu chefe caminhou centenas de quilômetros junto a outros albaneses para se refugiar numa não menos quebrada Grécia. O impacto de conversas como as que eu tive com ele não se compara às discussões sobre política nas redes sociais – nem de lá, nem daqui.
CORRUPÇÃO, POLARIZAÇÃO & MUDANÇAS
A corrupção não tem saído do noticiário, à medida que mais e mais denúncias vão surgindo. Infelizmente, isso não é bem uma novidade – ainda mais no país do ‘levar vantagem em tudo’ e do ‘rouba, mas faz’.
Já a polarização é um termo mais moderno que os brasileiros têm usado para explicar a falta de debate civilizado entre pessoas de opiniões diferentes.
Mas isso não é ‘privilégio’ nosso, não. Basta prestar atenção no que acontece na França, Inglaterra, Alemanha e até Estados Unidos – mesmo com o topetudo do Twitter no poder.
O problema é que as pessoas querem mudanças, só que têm conceitos diferentes sobre o quê, quando, onde e como mudar. E ainda há muitos, como eu, que evitam falar de política porque não se identificam com os ideais e projetos que os candidatos dizem ter.
Além disso, acho muito difícil pensar em renovação com os velhos políticos de sempre – e de suas famílias – no poder. Basta pensar naquele palhaço, no ex-presidente ‘impichado’ e na quantidade de parlamentares que tentam a reeleição neste ano, em que as vagas são apenas para 2 senadores por estado e 1 pelo Distrito Federal.
JOGO A MOEDA?
Estes dias eu fiz um post irônico dizendo que me sentia aliviada fora do Brasil, porque bastava evitar as redes sociais para ficar longe das mazelas de nossa política.
Na verdade, isso seria impossível.
Nunca fui tão sensível à influência da situação brasileira, principalmente depois que abri mão dos bons cachês das campanhas de publicidade para me aventurar pelo mundo!
Portanto , é melhor não arriscar nenhuma moedinha para decidir se voto ou volto pra estrada no ‘cara ou coroa’. A única conclusão até o momento é que precisamos prestar muita atenção aos vices…
Agradecer por você ter lido este desabafo e se quiser compartilhar suas opiniões, fique à vontade para falar de política por aqui também.
Beijos, Prats
Desculpe-me de por isto aqui,mas, gosto de sua posição política não tendenciosa, colocada e não imposta, de resolução simples e não simplista .
A Monique tem razão, tu tinha que escrever mais, ainda mais qndo tu tem esta visão fora da mácula.
tudo de bom
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É, acho que você é meio suspeito… mas obrigada!
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Só acho que você deveria escrever com mais frequência!🙏🏻🙏🏻🙏🏻
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Obrigada, Monique. Tem razão, viu? Eu trabalho escrevendo e acabo deixando o pratserie para momentos especiais, mas tem tanta coisa que dá para compartilhar aqui… agradeço seu incentivo!
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Achei muito boa essa opinião, muito clara e convincente! Além de inteligente e bem escrita!
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Que bom! Apesar de termos várias opiniões divergentes, acho que nisso temos sintonia!
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