Qual a coisa mais bizarra escrita em sua agenda de 2021? Tédius Pandemicus Procrastinórius? Ou simplesmente uma daquelas marcações de Carnaval, Páscoa, feriados…
Não quero nem falar sobre reservas canceladas neste ano em que muita gente já estava ligando o desconfinômetro — e me incluo nisso porque vim para João Pessoa com a ideia de turistar pelo Nordeste à medida que a situação da pandemia melhorasse.
Só que as coisas pioraram. Intensamente.
Minha vida de confinada em um paraíso agora tem restrições de acesso às praias e planos de viagem riscados.
Por isso, este post é um pouco diferente.
Em vez de relatar o que tem acontecido nestes dias, entro no tema agenda para expor algumas anotações e decisões feitas nos últimos 12 meses.
Como ressignificar esse objeto de planejamento desde que o coronavírus entrou em nossas vidas? Aqui tem algumas pistas.

Confesso que minhas inspirações andam dispersas nesta fase de não-viagens, em que apenas podem rolar passeios turísticos pelas memórias ou planos futuros, tipo revenge travels.
Fico dividida entre manter o estilo prático e temático de blog-de-viagens com foto pulando feliz da vida ou me permitir viajar por perspectivas mais pessoais e abordar outros temas.
Mas… por que não?
Penso que o principal é compartilhar por aqui as coisas que eu gostaria de ler e de ver. Esta é a “ferramenta de edição” que uso para transformar em post minhas anotações, elocubrações e piadas internas — algumas literalmente internas, pois não divido com ninguém😉
Afinal, escrever sem pretensões é libertador. E eu me divirto ao roteirizar essas viagens mentais.
O Papel da Agenda
Já reparou como até o nome agenda vem sendo ressignificado de uns tempos para cá?
Com sua existência ameaçada pelos bons apps do ramo, a velha agenda de papel entrou para o radar dos influencers rebatizada de planner. Também por influência do anglicismo, muita gente usa a palavra agenda em vez de pauta, tema, assunto, propósito etc. para um up no vocabulário.
Até então, se uma pessoa mencionasse a agenda da economia seria mais provável que ela estivesse se referindo a uma espécie de caderno próprio para organizar compromissos de uma faculdade de economia.
Agora é até moda falar em agenda do cancelamento, uma expressão que vai soar contraditória se aquele seu tio piadista repetir os termos agenda e cancelamento fazendo gestos de aspas no ar.👍👍👍
Bom, faz alguns anos que eu uso um tipo de agenda que considero perfeita por ser pequena, prática e “pratseada” — como costumo dizer, sem a mímica das aspas.
Mas também estou redefinindo a forma de usá-la.

Meu planner de 2020 só funcionou como planejado até o dia 12 de março. As páginas seguintes se transformaram várias vezes ao longo do ano e era deprimente encontrar anotações já feitas sobre compromissos presenciais e detalhes das viagens já marcadas.
O querido objeto prateado era identificado a cada fase.
Virou caderno de sonhos, risque-rabisque, muro das lamentações, ícone de coração partido, calmante, campo minado, mini-doc, diário da distopia, símbolo de resiliência…
Porque no ano em que vivemos sozinhos juntos, aprendi a dar valor ao ato de escrever à mão para limpar a bagunça da mente. Ou pelo menos acolhê-la com dignidade.
Então, acabei comprando um planner 2021 com a certeza de que seria útil. E uma tímida esperança de que ele pudesse retomar o seu papel de agenda.
A Doce Vida Offline
Chamo meu laptop de marido e o celular de amante. Isso diz muito sobre como me relaciono com o mundo virtual, certo? Só que não.
Gosto mesmo é da vida de solteira, da liberdade de tirar o olho da tela para ver um pôr de sol, preparar um pão com ovo perfeito ou não fazer nada.
Nadinha.
Tanto que, logo em meus primeiros passos para me tornar nômade digital, já soltei a pérola “vida é o que acontece quando a gente não tenta seguir o Google Maps”, parafraseando algo que o Lennon cantava:
Life is what happens to you while you’re busy making other plans – Allen Sauders (segundo a Wikipedia, John Lennon leu esta frase na Readers Digest e a incluiu na letra de Beautiful Boy)
Como não faço mais questão de usar um planner apenas para planejar as coisas, valorizo o poder de deslizar a caneta no papel para colecionar frases e ideias desconexas:
Algumas frases (motivacionais ou não) da minha agenda
- 07:00 – Derrotar o monstro cibernético que vive atrás de uma tela em branco
- Procrastinadores são pessoas que nunca entenderam a fábula da cigarra e da formiga.
- Sem problemas em me tornar uma mulher madura, só não tenho maturidade pra isso.
- 18:00 – Banho de mar clandestino
- Muitas ideias para posts, mas não estou pegando meus próprios jobs
- Listar 5 coisas para fazer em vez de ficar na sofrência. E fazer.
Método Ioiô: meu sistema para lidar com as ideias
Quando anoto compromissos na agenda, tenho uma relação como a dos tempos de escola: chego a decorar os pequenos “lembretes” que escrevo no papel.
O grande problema é entender minha letra quando anoto pensamentos, geralmente deitada ou aflita para não esquecer de algo depois de uma meditação.
O método ioiô serve para lembrar dessas ideias mais profundas. É como se eu tivesse um cordão para puxá-las até a palma da minha mão, igual ao que acontece com o brinquedo.
Na prática, eu associo toda uma linha de pensamentos a algumas poucas palavras, que podem ser trechos de músicas, nomes de pessoas ou até invencionices como esse sisteminha.
Nas muitas vezes em que estou sem sono, jogo esse ioiô virtual, mergulhando no que surge em minha mente a partir das palavras que salvei na superfície.
Escrever de próprio punho, sem a necessidade de organizar o texto ou torná-lo legível, é um exercício transformador. Isso leva a pensar em coisas que dificilmente teríamos tempo (ou coragem) de esmiuçar no dia a dia.
Palavra de confinada
Mesmo que eu não consiga decifrar muito os meus rabiscos e devaneios, tenho lembrado de muitas viagens de antes de começar o blog. Quero compartilhar essas histórias, talvez em uma série dividida por países, e me tornar mais frequente neste espaço online aqui.
Inclusive, este post está saindo na data limite que anotei na minha agenda de confinada.
Até breve!
Beijos, Prats
